Pode falar… fale à vontade e com vontade. Misture as verdades que você ouviu e as embrulhe de presente para eles, o público ávido por histórias malcontadas e notícias catastróficas.
Fale da forma como eu me comporto, das bocas que nem beijei, do voto que eu não dei, da roupa que nunca usei.
Fale do meu preconceito, da forma errada com que me refiro aos temas que você defende, mas lembre-se: é você quem faz discursos de ódio contra os que pensam ou agem diferente de você.
Fale muito e fale alto o quanto sou pequena diante do mundo, do seu mundo. Mas fale também o quanto ele é insuficiente para mim; o quanto ele é limitante e arrogante quando o tema é, simplesmente, o meu repertório cafona de roupas que já saíram da moda.
Fale da minha ignorância perante os bons costumes da sociedade de bem. Fale de mim como esse ser errado e torto que passeia pelas avenidas da vida, admirando os velhos hábitos da maioria, e me surpreendendo com os pequenos gestos de cordialidade que encontro em algumas raras esquinas…
Fale da minha capacidade em assumir meus erros e da minha franqueza em admitir que não consigo, ou não quero, consertá-los. Fale também da minha sobriedade em relação a tudo que não me pertence, mas que nem por isso eu julgo ou acuso.
Sim, fale da minha atitude em ser o que muitos não conseguem, em perdoar suas discrepâncias e em tolerar o que muitos dizem ser normal, mas que no fundo é pura ficção…
Fui! (tentar entender porque você fala tanto…)