Foi com essa pergunta que um instrutor abriu um fórum de desenvolvimento que reunia líderes da mesma empresa: “Por que você trabalha aqui?”
Desafio. Perspectiva de carreira. Flexibilidade. Propósito. Estas foram algumas das respostas. Não tinha certo ou errado. A resposta era pessoal e envolvia a motivação genuína de cada um. Mas surgiu uma resposta que silenciou o grupo: “Porque eu sou dono.”
E antes que você pense que era o sócio fundador, investidor master ou herdeiro, já adianto que se tratava de empresa de capital aberto, pulverizado na bolsa. Então, no máximo, ele poderia ter ações da empresa na sua carteira de investimentos. Mas ele se sentia dono.
Senso de dono tem sido um comportamento muito comentado e desejado no meio corporativo, que representa o sentimento de propriedade e responsabilidade do colaborador em relação ao trabalho e à organização. Um colaborador com mentalidade de dono não apenas cumpre suas tarefas, mas se empenha para ir além da sua atribuição e contribuição individual, buscando impulsionar o que for necessário para o alcance dos objetivos da organização.
Se é para ir além da atribuição, ter senso de dono então significa trabalhar 12 horas por dia e respirar trabalho? Claro que não! Senso de dono está mais relacionado à sua atitude perante o trabalho do que ao tempo dedicado ao trabalho.
Quem tem senso de dono é proativo, busca se antecipar aos problemas e não fica esperando que os outros resolvam. Ao contrário, ao identificar oportunidades de melhoria, toma a iniciativa para solucionar, promove discussões e participa ativamente quando convidado, com ideias e feedbacks construtivos.
Quando os problemas acontecem, não procura apontar culpados, mas sim, assume a responsabilidade de contornar junto a situação. Entende que o sucesso da empresa vem da satisfação do cliente e que esta é uma missão coletiva, por isso trabalha de forma colaborativa com as demais áreas, promovendo a confiança e valorizando o papel de cada um para esse objetivo.
O senso de dono obviamente não confere os “direitos” de quem é dono de fato. Não necessariamente as coisas serão do seu jeito. (E, na real, ai das empresas se seguissem estritamente a visão do dono! Os ritos de governança nas organizações são justamente mecanismos para proteger desse risco.)
Para ter senso de dono é preciso baixar a guarda e até engolir alguns sapos. Exige que você esteja sempre aberto a ideias novas e melhores para fazer as coisas, enxergando que nem sempre a sua visão é a única ou a melhor para a empresa.
Quando os funcionários se sentem donos de seu trabalho, eles não apenas executam suas tarefas, mas também se tornam agentes de mudança e crescimento, promovendo uma onda que torna a empresa um ambiente mais engajado, produtivo e inovador.
Na prática, ter senso de dono não é defender suas ideias a todo custo em prol do que você acha certo para a empresa, tá? Esta seria uma visão simplista e, a depender do grau, envolve o risco de você ser percebido como resistente e avesso a mudança. A linha é tênue.
O que qualifica como senso de dono é a direção, ou seja, a perspectiva de que potencializa o efeito coletivo e o resultado da empresa. É preciso estar aberto e ouvir todos os pontos de vista, pois pode ser que você enxergue a melhor solução para o seu departamento, mas não necessariamente esta seja a melhor solução como empresa.
O senso de dono é uma alavanca poderosa que pode transformar a dinâmica e o sucesso de uma organização. Quando os funcionários se sentem donos de seu trabalho, eles não apenas executam suas tarefas, mas também se tornam agentes de mudança e crescimento, promovendo uma onda que torna a empresa um ambiente mais engajado, produtivo e inovador. E quando o coletivo avança, as oportunidades de realização individual vêm a reboque.
Mas é claro que isso não acontece num estalar de dedos. Impulsionar esse sentimento requer um esforço coletivo da organização, com forte atuação da liderança, promovendo empoderamento, reconhecimento, desenvolvimento das pessoas e alinhamento de valores, para que cada vez mais todos se sintam donos e estejam alinhados com a direção apontada pela empresa. Só assim as pessoas vão se sentir remando a favor da correnteza e não contra a maré... E alguém tem dúvida que chegarão mais longe e mais rápido?
Voltando ao início deste texto, quando aquele líder disse "porque eu sou dono", a força da resposta não foi exatamente pelo que ele disse, e sim, pela forma como ele age. Quem tem senso de dono é reconhecido como tal, dispensando justificativas. E ele, inquestionavelmente, é.
Você se sente dono do seu trabalho? Não precisa responder. Só pensa nisso e no que você pode fazer a respeito. Isto também é sobre protagonismo de carreira.
Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira
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