Quem você pensa que eu sou, dentre tantas que você conhece? Quem você pensa que comanda minha mente inquieta, cada vez que penso em mudar tudo de novo? E quem você acha que vai mais longe, quando já era tempo de parar, mas minha marcha ainda está acelerada?
São tantas versões de mim em um espaço de tempo tão curto, que nego-me a acreditar que você saberia distinguir… mas em algo você pode acreditar: nenhuma versão é melhor do que a que se esconde atrás das minhas lágrimas de misericórdia, aquelas que esperam silenciosas o cair da noite para aparecerem, puras e libertadoras. Essa versão, desnuda de verdades inconfessáveis, transita pelo labirinto da minha alma machucada e assopra as angústias que ficaram presas em algum espaço de tempo em que não pude dizer nada diferente das mágoas que causei nos que mais me importavam.
E quem você acha que sou hoje, depois de tantas tempestades que enfrentei sozinha, sem conselho algum que me fizesse enxergar a avalanche que eu mesma causava à minha vida, cada vez que me aproximava de quem não deveria, ou cada vez que me distanciava das coisas que me traziam felicidade genuína?
Quem você acha que sou, depois de tanto tempo, depois das horas que não voltam, das músicas que optei por não dançar e dos amores que perdi no caminho? Quem você acha que hoje se senta sorridente na sua frente, sem disfarçar constrangimento ou pudor, proferindo palavras de baixo calão, em intempéries desencontradas de prazer explícito, sem nada a acrescentar a não ser eu mesma, complexa e intensa. E quem você acha que clama por seu toque igualmente cansado, depois de tantas idas e vindas, longe de um passado que prefiro deixar guardado em um lugar calmo da minha estante viva de memórias fortuitas? Quem você acha que sou?
Fui! (Tentar descobrir…)