Quero voltar para o meu lar, meus amigos, minha cidade. Depois de tanto tempo vagando por este mundo enorme, encontrando diariamente a solidão que inunda minha vida de nicotina e comidas gordurosas, depois de tantos projetos inacabados e outros fracassados, depois de “tanto”, quero desprender-me da minha busca em prol do lugar perfeito. Não quero mais morar no melhor lugar, ao lado dos melhores hospitais e colégios; ao contrário, quero morar perto da praia, da lagoa e da minha mãe.
Quero ver meus filhos crescerem no lugar que tanto amo, com o Cristo abençoando seus passos sempre que saírem de casa no perigo iminente que esta grande cidade traz. Quero saborear as delícias que ainda existem nessa empobrecida cidade, que está suja e descuidada, mas que ainda carrega uma beleza natural, como a uma mulher que se descuidou mas que ainda conserva seus traços irregulares e lindos…
Quero poder abraçar os que me são caros, sem ter que me programar tanto para um momento que pode nunca mais acontecer. Quero poder cuidar da minha saúde com o mesmo compromisso que minhas amigas de caminhada, com o peso da culpa só por segurar um cigarro fortuito em minhas mãos; quero trocar minha dose de whisky por um shot de suco verde ou um gole de água de coco e quero, mais do que tudo, poder escutar o meu sotaque através dos áudios das outras mães, comentando sobre os problemas cotidianos com um som mais parecido com o eco que existe no fundo da minha mente.
Quero rir da vida que passa despercebida por mim sem me preocupar se o trânsito vai estar insuportável, porque se ele estiver, terei a vista da minha lagoa para apreciar no caminho de volta para casa. E quando sentir-me vazia ou nostálgica, poderei visitar aquela tia que já não se movimenta, só para agradecer por seu amor e dizer-lhe que não se preocupe comigo, pois irei desfrutar ao máximo o tempo que tenho, no lugar que mais amo, ao lado dos meus.
Fui! (voltar para minha casa…)