Vivemos na era das redes sociais. Postar os clicks favoritos em busca de ‘curtidas’ é a nova rotina da maioria das pessoas, independente da geração. Gerações mais novas experientes nesse movimento, gerações mais velhas aprendendo.
As redes sociais têm diversas funções, podendo ser utilizadas muito além da exposição da vida pessoal, como forma de trabalho, informação, estudo, conscientização, movimentos entre outras coisas. Mas em que momento, de qual forma as redes também têm uma função negativa na vida das pessoas?
Muito se fala atualmente sobre como as redes nos trazem pensamentos e comportamentos de comparação, idealização de uma vida ‘perfeita’ que tanto é exposta, e a frustração por não alcançar os ideais que são impostos socialmente do que se deve ser, fazer e de que forma se deve viver.
Mas muito além dessa discussão, hoje trouxe apontamentos científicos das influências que as mídias têm no nosso organismo. Você sabe o que é dopamina e serotonina? Vamos lá.
Ambos são neurotransmissores que apresentam diversas funções no nosso corpo. Sua função é atuar no cérebro na transmissão de dados entre os neurônios.
A dopamina é disseminada em várias áreas do cérebro e tem diversas funções, como o controle motor, humor, atenção, cognição, funções endócrinas e para a nossa reflexão as mais importantes: função de compensação e prazer.
E é sobre essa função de compensação que vamos refletir hoje. Liberamos dopamina quando concluímos algo que nos traz prazer, nos é benéfico, quando se atinge um objetivo. Quando sentimos prazer ao fazer algo que gostamos, temos uma sensação de conforto e satisfação. Com essa sensação, tem-se o sistema de recompensa, o qual é responsável pela motivação para realizar atividades e funções, e também é o responsável por sentir prazer quando concluímos algo.
E qual a relação da dopamina com o uso de redes sociais? A verdade é que as redes sociais são grandes fontes de dopamina. Elas foram desenvolvidas para que a gente sinta prazer, com suas diversas formas de recompensa, fazendo com que a gente fique fixados por horas nesse universo. Podemos observar no funcionamento das redes o sistema de recompensa da psicologia comportamental, onde os reforços positivos estão presentes o tempo todo, como curtidas, comentários e atualizações da página. O reforço positivo nada mais é que a consequência de um comportamento que o torne mais provável a acontecer novamente. Quando estamos expostos a uma situação que nos reforça positivamente, como postar uma foto e receber vários elogios, por exemplo, a probabilidade de postar uma foto novamente aumenta.
Dessa forma, as redes acabam funcionando como um grande sistema de recompensa, por meio dos reforços positivos, sentimos cada vez mais a necessidade de se fazer presente ali para checar se existe algum novo reforço, algum prêmio, alguma satisfação. Quando essa recompensa está ali, acontece a liberação de dopamina.
Tudo bem, mas qual o problema em sentir prazer pelas redes sociais? Se está me trazendo prazer, não está tudo certo?
As redes sociais liberam dopamina de uma forma muito simples, sem muito esforço, e dessa forma é mais fácil ficar horas no celular para obter dopamina do que sair fazer uma atividade física por exemplo. Porém, cargas altas de dopamina ao longo do tempo fazem com que o cérebro entenda que não é mais necessário produzir o hormônio em quantidades ‘normais’, e dessa forma, é cada vez preciso ficar mais tempo fazendo a mesma coisa para ter a mesma quantidade de prazer. Ou seja, quanto mais dopamina é liberada usando as redes sociais, mais tempo precisamos usá-las para liberar a mesma quantidade.
Além disso, as redes trazem uma necessidade de aprovação muitas vezes inalcançável, justamente para se obter prazer. Assim, fica cada vez mais difícil sentir algo com a realidade, afinal muitas vezes a realidade não é bonita, não é digna de ser postada, não vai chamar atenção.
Devemos cuidar com a busca em alcançar uma vida ideal e que faça sentido nas redes, mas que muitas vezes não é possível realizar, pois fica cada vez mais difícil de sentir prazer com a realidade, com a vida fora da internet, podendo gerar diversas consequências na nossa auto estima, com inseguranças e comparações que fogem do nosso controle consciente.
Antonella Borghesi para a coluna Sociedade
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