Foto: Virgínia Linhares
Graças a Deus e ao Babalorixá da Sorte. Graças às rezas e às mandingas dos despachos sorrateiros. Graças ao Jesus e ao Zé… Que Zé? Aquele que esquenta o tamborim depois que a graça do Espírito Santo se faz presente. Se somos todos sortudos, somos todos filhos do Santo da Sorte. Do Santo que segura o dado quando o número que ninguém quer ver insiste em aparecer. Essa sorte, a maldita sorte que estava sumida há tempos, resolveu sambar em pleno mês de agosto. E fez reinar a profecia do malandro debaixo de tantos olhares. Se é a passarela que encanta, chamemos a pomba mais glamurosa que, rebolando ao som do antigo, esmoreceu o Universo que se encolhia diante de tão majestosa beleza. E o que dizer dos atabaques? Foi o som providencial ao fundo da melancólica sintonia de tantos hinos que contam glórias e guerras do passado. Foi magistral o espetáculo que encobriu a miséria e o caos, que jazia em um lugar desesperançado. Pois fez-se a esperança renascer das esquinas dos antigos povos de rua. Trouxe os olhos do Mundo ao esgoto a céu aberto e eis que fez-se dia em quinze noites de alegria. Se minha casa não era boa o suficiente, tornou-se, pois, um palácio servil e obsequioso. Tornou-se fácil e acessível, mas nem por isso, tornou-se vulgar. Foi sim a Sorte que nos deu de presente os aplausos merecidos entre as calúnias providenciais, que não desmereceram o grande acontecimento, ao contrário, que ajudaram a enaltecer ainda mais o valor do passe entregue. Se são vísceras do passado que devem ser arrancadas do presente, foram estas muito bem dissecadas, em uma cirurgia reparadora precisa, ou em um golpe certeiro do Senhor da Sorte. Se é um amanhã com ritmo de batuques, emoldurado em um museu que leva o nome do futuro, desejo que seja ele bem quente, bem tropical e bem bagunçado. Com o rebolado da pomba e o chapéu do Malandro, a Sorte abençoou novamente esse filho, que era feio, mas que se tornou Maravilhoso. Fui! (agradecer…)