Espero que esta realidade não seja a sua, mas mulheres são as maiores vítimas da chamada “síndrome de impostor”, um sentimento de incapacidade, que se manifesta principalmente no ambiente profissional. Isso se associa a estudos científicos que revelam que as mulheres têm maiores níveis de ansiedade do que os homens, impulsionados por aspectos hormonais e por fatores sociais, como o reflexo da sociedade patriarcal e as dificuldades de romper a barreira para se encaixar no mercado de trabalho.
O nome “síndrome do impostor” é justamente porque a pessoa se sente uma impostora. Pensa que não está à altura do cargo que ocupa, que chegou onde está por sorte, que está enganando todo mundo e em breve será descoberta. E este sentimento, que também acomete mulheres bem sucedidas, gera por trás das suas realizações um sofrimento que ninguém imagina, pois tudo se torna mais exaustivo devido ao seu grau de exigência e ao seu nível de esforço, já que quem sofre da síndrome acaba precisando fazer ainda mais – descambando para a preparação excessiva e o perfeccionismo exacerbado - para se sentir segura de que não será desmascarada desta vez.
Isto é mais comum do que se imagina! Um estudo realizado com executivas influentes, pela Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, citado na edição 2734 da revista Veja, revelou que 70% delas se sentem “uma fraude” e que não merecem seus cargos.
E o que é pior: à medida que as vítimas da síndrome se sentem uma fraude, não se posicionam para novas oportunidades, já que pensam, mesmo que não tão conscientemente, que já chegaram longe demais e que não reúnem a qualificação adequada para avançar ainda mais na carreira. (Olha a autossabotagem aí!)
Um estudo da consultoria LHH sobre o assunto reforça justamente este ponto, trazendo a estatística que os homens se candidatam a uma vaga quando preenchem 60% dos requisitos, mas as mulheres só se candidatam se acharem que correspondem a 100%. Ou seja, as mulheres muitas vezes nem tentam, por não se sentirem qualificadas o bastante.
Mas não é só assim que as mulheres se sabotam, de acordo com a LHH. As mulheres também se sabotam quando mantêm os seus pontos fortes e sucessos em segredo, ou quando acham que é preciso ser especialista para se posicionar, por exemplo.
Sabe aquela fala que muitas vezes usamos de que “nossos resultados falam por si.”? É uma fala bonita, mas nem sempre verdadeira, pois muitas vezes, o resultado demora a “ser escutado”, e quem vem falando sobre, acaba sendo ouvido primeiro. Se a gente não conta para as pessoas sobre o que realizamos, como saberão? Como poderão considerar que temos competência e experiência para lidarmos com desafios semelhantes no futuro, se não souberem?
Outra autossabotagem é se calar em reuniões e debates públicos, mesmo tendo conteúdo para contribuir, por achar que “todo mundo sabe isso, não vale a pena mencionar”.
No entanto, quantas vezes outra pessoa acabou dizendo a mesma coisa que você pensou, e você viu todos sinalizando afirmativamente, como se fosse algo relevante. Relevante, mas você não se permitiu posicionar. Por que? Devido a uma crença limitante de que você não tem nada de relevante a acrescentar. Será?
Estes são só alguns exemplos de como a síndrome se manifesta no nosso dia a dia, sem sequer percebermos.
Precisamos ter consciência disso, para atuarmos contra seus efeitos, as autossabotagens.
Se você sofre desse mal, a boa notícia é que nem tudo é ruim quando se trata da síndrome do impostor. Um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), da pesquisadora Basima Tewfik, divulgado em artigo de Peter Rubinstein, da BBC, sobre os comportamentos dos ‘impostores’ revela que a tentativa de compensar suas inseguranças pode torná-los realmente bons no que fazem. Esse pensamento de que estão se fazendo passar por alguém mais capaz do que são não afeta diretamente a qualidade do trabalho. De acordo com o reconhecido professor Adam Grant, da Escola de Negócios de Wharton, da Universidade da Pensilvânia, essa pesquisa abre novos caminhos “ao destacar que pensamentos impostores podem ser uma fonte de combustível”.
Então, em vez de ficar se martirizando com a crença de que você não é capaz, se concentre no que as pesquisas revelam: os ditos impostores não têm uma qualidade de entrega inferior e, além disso, esta condição não paralisa, ao contrário, pode alavancar seu desempenho, pois você sente que precisa fazer mais. Esta é uma visão interessante, porque há um senso comum que a síndrome do impostor impede o avanço, então, muita gente a associa à estagnação. De fato, sendo a síndrome uma força contrária que você precisa combater, o pensamento que deveríamos ter é sobre onde poderíamos chegar se não tivéssemos que vencê-la. Já parou para pensar nisso?
Não é à toa que uma das recomendações de especialistas para lidar com a síndrome seja justamente concentrar o foco em si mesma, na sua trajetória e realizações, para se conectar com os fatos sobre você. Ao se ancorar em fatos, não em conjecturas sobre o pensamento dos outros, você será capaz de internalizar seu valor e lidar com as armadilhas do pensamento impostor, vencendo seus medos e inseguranças.
E aí, pronta para abandonar o ‘clube das impostoras’?
Érica Saião para a coluna carreira
Encontre-a no Instagram: @erica_saiao