Se no fim de domingo, quando começa a abertura do Fantástico, você sente um calafrio e pensa “Ai, meu Deus! Amanhã é segunda-feira!” e se já começa a contar os minutos para chegar a sexta e postar aquele “sextou!”, não se aflija. Você não é a única. Preferir estar em casa, tornando a vida um eterno fim de semana, seria a escolha natural da maioria.
A própria Bíblia, que independentemente da crença, é o livro mais conhecido do mundo, diz que o trabalho foi colocado na vida do homem como um castigo... Segundo o livro de Gênesis, quando Deus criou o mundo e viu que tudo era bom, Ele não havia instituído o trabalho. O trabalho só veio depois, como punição a Adão: “do suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gênesis, 3:17). Então, não se puna se você não conseguir achar o trabalho a maior diversão da sua vida! De acordo com a história das civilizações, nunca foi. Mas também não deveria ser uma tortura.
Mais do que uma questão de sobrevivência, por atender as nossas necessidades básicas (alimentação, moradia, etc), o trabalho também complementa nossas necessidades sociais, de autoestima e realização (numa referência à Hierarquia de Maslow!). Se o trabalho é um meio de sobrevivência, social e emocional, não pode ser um catalizador de doenças. Não pode ser um fardo, não pode fazer mal. Se isso acontece, algo está errado.
Ter estresse no dia a dia se tornou cada vez mais comum. A pressão do tempo, a velocidade das informações, as metas a serem atingidas e as diversas tarefas do dia deixam as pessoas cada vez mais aceleradas e exigem que estejam sempre conectadas. O trabalho ficou mais estressante. Mas, se você parar para refletir, a vida, de uma forma geral, que ficou. Até aqui, tudo normal. O problema está em como você reage a essas situações de estresse.
Muitas vezes, as situações de estresse desencadeiam um comportamento proativo e dirigido, provocando um efeito positivo, que leva o indivíduo à superação. É como se você tivesse levado o seu organismo à carga total para atingir determinado objetivo. O resultado é bom, porém, essa condição não pode ser permanente. Não dá para se manter a 100% de capacidade o tempo todo. E aí começam os efeitos negativos do estresse, quando o seu organismo começa a dar sinais de que precisa reduzir o ritmo. Inicialmente, surgem a tensão, a impaciência, a ansiedade. Depois, a insônia, o desânimo, o cansaço crônico. Mais à frente, doenças como enxaqueca, dermatite, gastrite e outras “ites”. Nada necessariamente nesta ordem, claro... Até chegarmos no esgotamento (ou burnout), que até pouco tempo mal era conhecido e agora já é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença do trabalho.
E como é que você se protege de tudo isso?
Primeiro, se pergunte: o estresse é inerente ao trabalho ou é você que se estressa com o trabalho? Que qualquer organização tem metas e que as pessoas estão lá para atingi-las, todos concordam. Lidar com a pressão por resultado é uma exigência do mundo corporativo. Mas você está preparada para isso? Se não está, o que pode fazer para se capacitar? Para lidar melhor? E se não tem perfil, por que não mudar de área?
Outro aspecto importante a se refletir é se o estresse está relacionado às atividades que você desempenha ou ao ambiente de trabalho. É fruto de uma convivência ou ambiente tóxico? Identificar o fator catalizador de estresse é o primeiro passo para você conseguir se blindar contra seus efeitos ou tomar uma decisão sobre como eliminá-lo da sua vida. É possível gostar do seu trabalho, mas ainda assim estar insatisfeito com alguns fatores. A questão está no que você fará para melhorar o que não está bom.
Segundo, não se exija tirar 10 em tudo. Busque sempre fazer o seu melhor, mas seja gentil consigo mesma e tolerante com suas falhas. Aja como você agiria se fosse com outra pessoa. Como líderes, nós identificamos quando algo não se realiza como o esperado e oferecemos o suporte para que seja na próxima vez. Por que você precisa acertar sempre e de primeira? Não se martirize. Aprenda com seus erros e faça melhor na próxima.
Terceiro, lembre-se que há vida fora do trabalho. Quando estiver com a família, esteja! Aproveite plenamente o tempo em que está com quem você ama, que já é tão escasso. Procure uma atividade prazerosa, uma ocupação, ou mesmo uma “desocupação”! Isso mesmo! Gaste um pouco de tempo consigo mesma. Nem que seja fazendo nada. Se permita um tempo e desconecte-se de vez em quando. Mas deixe o celular ligado, para não ficar estressada por isso... (Perdoe o gatilho de workaholic em recuperação!).
Enfim, a vida é uma só... E, como dizem, o trabalho é um meio de vida, não um fim. Seria maravilhoso se todos pudessem trabalhar com aquilo que mais amam, mas nem todos têm esse privilégio. E tudo bem. O que não podemos é sofrer com o trabalho. Não precisa ser (e ficarei aliviada em saber que não é) a atividade mais prazerosa da sua vida, mas também não deve ser uma tortura. Se for, aí sim, algo está errado. Simples assim.
Já diz o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, conhecido como precursor do estudo do flow, que o problema na relação do trabalhador com o emprego parece residir no modo como percebemos nossas metas em relação ao trabalho. Quando sentimos que investimos atenção numa atividade contra a nossa vontade, é como se nossa energia psíquica fosse desperdiçada e isso gera a insatisfação. Já quando percebemos que esta atividade pode nos ajudar a conquistar nossos próprios objetivos, o trabalho deixa de ser um fardo imposto, um fim em si mesmo, e se torna efetivamente um meio, uma alavanca.
Amanhã é segunda-feira, feriado do dia do trabalho, e muita gente estará trabalhando. Sim, muitas atividades não param e você deve conhecer alguém que também estará trabalhando. Especificamente hoje, domingo à noite, uma parte do meu time estará atuando em plantão noturno, na virada da meia-noite, na implantação de um projeto. Eu, inclusive. Nem vai dar tempo para TPS! rs
Espero que você reconheça no trabalho a sua alavanca. Um bom domingo, sem TPS!
Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira
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