Sempre que me sento em frente ao computador para criar uma coluna, geralmente sei decididamente qual assunto será abordado. No entanto, vez e outra acontece algo no meio da minha semana que me deixa reflexiva e acaba mudando a ideia do que pensei em escrever anteriormente.
E nessa o que me pegou foi a respeito da insegurança da mulher em relação ao seu corpo. Tudo começou com uma postagem que fiz no Facebook a respeito de sermos lindas independentemente das nossas imperfeições – perfeitas.
Eu só não esperava que nos comentários chovessem mulheres abrindo suas feridas e expondo suas inseguranças. Confesso que cada mensagem me doeu de alguma forma, mas fiquei boquiaberta quando em um dos comentários, li que uma garota não se relacionava com ninguém há alguns anos por vergonha do próprio corpo.
E é sobre isso que decidi escrever, porque eu também já fui essa garota.
“Mesmo com pessoas à minha volta dizendo quão bonita eu era, eu não conseguia deixar de ter receio. Achava que me elogiavam somente para me agradar.”
No começo do meu relacionamento, em meados de 2011, eu estava prestes a perder a minha virgindade e a ideia de ficar nua em frente ao meu namorado me apavorava muito mais que ter o meu hímen rompido. O fato de eu não me achar fisicamente atraente sem roupa, me fez postergar o sexo por meses. Eu não sabia exatamente de onde surgiu essa insegurança ou exatamente em que momento ela começou. O meu parceiro nunca deixou de exaltar a minha beleza e nem me deu motivos para não me sentir segura ao seu lado.
O “problema”, na verdade, estava em mim. Lá dentro, escondido no meu íntimo. Inconscientemente eu me comparava às outras garotas da escola, com grandes seios, coxas grossas, cheias de curvas, e achava que o meu tamanho P era motivo de vergonha. Sempre fui magrinha e baixinha e até pouco tempo atrás não tinha coragem de usar biquíni e me sentia desconfortável quando meus amigos planejavam viagens onde teria piscina ou praia. E mesmo com pessoas à minha volta dizendo quão bonita eu era, eu não conseguia deixar de ter receio. Achava que me elogiavam somente para me agradar.
Quando essa insegurança está enraizada em você, é difícil acreditar na opinião dos outros. Assim como quando sua autoestima é boa e você se sente a pessoa mais foda do mundo, as opiniões negativas não passam de palavras vazias.
Mas deixe-me contar um segredo: você também pode enxergar toda essa beleza que as pessoas veem em você.
Tudo o que precisa fazer, é tentar. Sério, se dê uma chance.
Foi o que fiz. Tudo começou no verão, em uma viagem com a minha família para uma cidadezinha do interior, onde eu estava no meu pior momento e suspeitava de início de depressão. Coloquei um vestido florido e fui dar uma volta despretensiosa com o meu cachorro e a minha mãe. Em uma das esquinas, paramos para conversar com umas pessoas que queriam ver o meu cachorro, mas, de repente, me tornei o centro das atenções e recebi tantos elogios, que me levaram levou a pensar.
Não eram elogios que eu nunca tinha ouvido, mas eram elogios de desconhecidos. De pessoas que falavam não para me agradar ou por me amarem, mas porque tinham aquela opinião. É diferente quando você ouve palavras bonitas de pessoas que nunca viu na vida. Isso te arranca um sorriso inexplicável e tenha certeza que quando você sorri, mais linda fica.
Voltei muito comovida daquela viagem e decidi parar de me maltratar. Decidi que era a última vez que eu me sentiria mal a respeito do meu corpo. Eu sou aquela que passarei o resto da minha vida comigo, então precisava valorizar a Renata que me acompanhava todos os dias e tratá-la bem.
“Decidi que era a última vez que eu me sentiria mal a respeito do meu corpo. Eu sou aquela que passarei o resto da minha vida comigo, então precisava valorizar a Renata que me acompanhava todos os dias e tratá-la bem.”
Sabe, não há uma fórmula mágica para mudarmos nossos pensamentos negativos. Eu queria que existisse, mas não há. No entanto, podemos deixar de cutucar a ferida. Sim, amiga, nós temos o péssimo hábito de cutucar a feridinha e ficar nos comparando com outras ou nos ofendendo em frente ao espelho. Deixe isso pra lá.
Você é linda, você é única. Não existe no mundo outra igual a você. Seus cabelos, suas unhas, sua pele, seus olhos, seu corpo. Tudo que há em você, não existe em mais ninguém. Isso não é fantástico? Por que não amar? Não cuidar?
Hoje eu me vejo com outros olhos. Eu me respeito e, consequentemente, até minha vida sexual mudou.
Quando você começa a se tratar bem, tudo melhora, desde o profissional ao pessoal. Uma mulher segura de si, não aceita qualquer emprego e qualquer amor, porque ela se ama o suficiente para aceitar um amor meia-boca.
Uma mulher segura de si, se olha no espelho e se atrai por ela mesma. Ela sabe onde tocar para sentir arrepios. Sabe onde sua mão deve caminhar para fazê-la suspirar. Ela se acha tão sexy, que nem precisa ouvir da boca de ninguém.
Quando essa mulher se deita com seu parceiro ou sua parceira, ela tem confiança o suficiente para ser ela mesma, porque ela sabe que é incrível.
“Quando você começa a se tratar bem, tudo melhora, desde o profissional ao pessoal. Uma mulher segura de si, não aceita qualquer emprego e qualquer amor, porque ela se ama o suficiente..”
Quando você aprende a se amar e a se respeitar, você obriga as pessoas à sua volta a fazerem o mesmo.
Eu só queria poder dizer àquela menina do comentário se preocupar apenas em se fazer bem, em se amar como é ou a mudar o que achar que deve mudar. Ela é livre para escolher. Mas que não demore, porque a mulher escondida dentro dela está ansiosa para mostrar sua beleza ao mundo.
E nós, estamos ansiosas para ver.
R_Christiny escreve para a coluna Papo de Bordel
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