Em nenhum local nos sentimos seguras de fato, a violência contra a mulher está nos mais variados lugares, seja em casa, na rua, na escola e até mesmo no ambiente hospitalar.
O caso do anestesista que estuprava as mulheres durante a cirurgia cesariana demonstra com clareza como nem neste momento em que a mulher está tão vulnerável e passando uma experiência única pode ter paz.
A violência obstétrica, termo utilizado para agrupar as eventuais violações físicas, verbais e psicológicas sofridas pela mulher ao longo da gestação, puerpério e também nos casos de abortamento, tem sido prática recorrente nos hospitais.
Basta realizar um questionamento com algumas mulheres que tiveram filhos para identificarmos uma série de violações ao seu corpo, por exemplo: é direito da gestante ter acompanhante, seja em hospitais públicos ou particulares, seja cesárea ou parto normal, porém, há uma busca desenfreada por impedir tal direito, que tem respaldo legal.
A episiotomia de rotina, outra conduta extremamente invasiva, na qual o médico realiza com tesoura ou bisturi um corte entre a vagina e o ânus da gestante, é rotineira no país, ou seja, acontece sem necessidade, e ainda, médicos humanizados já a aboliram desde 1999, porque o ato traz muitos malefícios para a mulher, inclusive dores nas relações sexuais, é uma mutilação da mulher.
Outra questão a ser destacada dentro da episiotomia, é uma atitude machista e patriarcal, conhecida como ponto do marido, que tem como objetivo deixar a vagina mais apertada com vistas a preservar o prazer masculino, que pode acarretar mais dores durante a relação sexual para a mulher.
Essa questão merece destaque, porque, até mesmo em um momento tão vulnerável como o do parto, a mulher está submetida a atitudes misóginas, faz-se um ponto que pode trazer uma série de consequências para a sua vida, para simplesmente dar mais prazer ao homem, é uma atitude extremamente violenta, que fere o direito ao corpo, sendo considerada violência obstétrica.
Em alguns relatos comuns dessas mulheres, elas ouviram dos médicos o seguinte: "vou lhe deixar bem apertadinha, seu marido vai amar! Vai ficar parecendo uma jovenzinha”.
Além desse procedimento realizado de forma rotineira, temos também a manobra de Kristeller, que consiste no ato do profissional de saúde com as suas duas mãos empurrar a barriga da mulher em direção à pelve, que pode trazer diversos prejuízos à mulher e ao recém-nascido.
Pode-se ainda citar, como violência obstétrica dentro dos hospitais, a coação a Cesária, negativa de água e alimentos, restrição de posição para o parto, aceleração e intervenções para aceleração do parto, sem consentimento e informação à gestante, violência psicológica com frases: “É bom que você sente dor, para da próxima vez não estar aqui de novo”; “Faz força, P@h!”; “Anda logo, faz força que eu não tenho o dia inteiro não” e dentre outras atitudes.
Por tudo isso informação se torna a palavra-chave para a gestante, é preciso conhecer seus direitos, e saber que práticas humanizadas devem ser realizadas pelos hospitais, e qualquer violação ao seu direito é passível de ação judicial.
Mulheres de todo o país, uni-vos!
Matéria de Débora Nicodemo para a coluna direitos das mulheres
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Advogada especialista em violência obstétrica, com curso em andamento de doula e Educadora Perinatal.